Sair batendo estas asas de tal forma a lançar no vento todas as mágoas e as lembranças que ainda me ferem e me deixam triste.
Mais que nunca quis viver só para enxergar as belezas e não ver mais tristezas como vi ontem estampadas nas crianças que pediam restos de comida na Praça dos Namorados em Vitória onde fui tentar me divertir.
Me esconder, sumir na escuridão de um buraco que não me deixasse ouvir as coisas que despedaçaram meu coração, fugindo daqueles que sei que me amam de alguma forma, mas que tiveram a coragem de me enganar e tirar de mim a ingenuidade de acreditar que as pessoas são só amor.
E as asas me levariam por sob as ondas e as montanhas em meio as nuvens, só o barulho do vento para me distrair me levando para longe.
Só veria a natureza que amo e que está sendo degradada sem nenhum remorso por pessoas que poderíamos pensar que são sem escrúpulos, mas que somente são pessoas querendo sobreviver e degradam a natureza porque não sabem fazer da forma correta.
E as lembranças? O que me restam delas? Algumas já se perderam no tempo e sei que fui perdida na lembrança daquele que um dia pareceu ser o meu alento para sempre.
Ainda me esfria o estômago ao lembrar dos braços ao redor do meu corpo me fazendo sentir segura naquele instante em que nos perdíamos num sono seguro e um suspiro feliz só por estarmos um com o outro sem prensar nos nossos outros compromissos, nos aquecendo e nos fortalecendo.
Mas tudo passa, tanto a alegria como a tristeza e a vida segue seu caminho nos surpreendendo a cada dia.
E hoje como nunca, gostaria de acender meu coração vendo lá do alto do meu sossego, aquele que um dia me alcançou e me puxou para perto do seu coração e me aqueceu com sua carência sem saber que a minha carência ainda era maior...
E tudo acabou... foi difícil tirar dos meus olhos o ar tão triste que me consumiu por longos 3 anos.
Me pergunto de onde vem esta saudade que não acaba e só aumenta acalentada pela certeza de que tudo foi como poderia ter sido e depois cada um para seu lado, escondendo dentro de si as frustrações que poderiam ser verdadeiras ou não, quem vai agora saber o que era verdadeiro?
Cadê as minhas asas? Quero seguir marcando minha história e a de quem comigo cruzar fazendo fixar em sua memória as lembranças que jamais se misturarão nas ondas do nosso mar da vida.
As lembranças guardadas no coração. Alguns em lugar especial e outros lacrados em compartimentos sagrados.
Mas é assim a vida. E hoje como nunca te olho furtando misteriosamente de alguém a quem pertence o seu sorriso e quem sabe até o brilho dos seus olhos. Fico tentando imaginar seus sonhos e desejos e saber se é feliz ou se ainda busca o que tentou achar em mim.
Será que marquei sua história? Será que hoje queimo em sua mente como você na minha?
Sim... Não se apagam lembranças... Se revive a todo momento, basta deixar a lembrança vir e as sensações estão ali, tão vivas como o momento vivido. O tempo marcado pelas carícias e as delícias que vivemos e que espalharam todas as preocupações, pois o desejo era mais forte. O querer ficar junto era mais poderoso.
E agora cadê minhas asas para eu eu ir embora desta lembrança que me surgiu agora?
Agora, mais que nunca quero minhas asas para ir embora desta lembrança. Ainda doe.
